sexta-feira, 8 de junho de 2007

Ser poeta, ou não o ser.

Um dos meus gostos pessoais é a poesia. Ler, meditar e escrever poesia, é como transformar-me em palavras, e conhecer-me melhor do que me conheço. Não sei se para a escrita o talento é muito grande… mas isso também pouco importa! Este gosto que já vem de alguns anos a esta parte, e foi crescendo aqui neste ano de “exílio” em Navarra, onde a poesia foi tantas vezes esse refúgio e lugar de encontro entre mim e Deus.
Nas minhas aulas de Teoria das Artes, falamos longamente da obra de Talkien e com ele aprendi que o mito não é produzir contos extraordinários, o mito é antes fazer com que o impossível seja de facto verosímil, ou seja, seja perfeitamente real. Eu acho que a poesia, é o reino do mito, onde desconcertadamente “tudo o que não é possível” passa a ser completamente verdadeiro. Acho que a poesia é a realização do mito por excelência.
A uns tempos atrás, foi-me pedido um poema e eu escrevi-o. Aconteceu algo de que já não falo, pois está sanado no meu coração, ainda que deixasse marcas profundas, inolvidáveis. Porque como diz o Dr. Santiago Hernández, “a poesia é esse lugar, onde o poeta pode deitar mão de tudo, e transforma o assombroso em possível. A poesia é esse canto do mundo em que um homem transforma o que “não pode ser” em si mesmo, e então o que não era ganhou vida”. Meio mundo não entende estas palavras, e transforma as palavras do poeta, que eram então o seu ser, em linguagem comum. Mas as palavras de um poeta não são usuais, pois elas são a capacidade de traduzir essa “fome e sede de Infinito de um poeta”. Mas, se a letra mata o Espírito vivifica. As palavras de um poeta, só se percebem quando nos deixamos penetrar pelo espírito, porque o poeta é artista em fazer esconder as verdadeiras palavras atrás de nuvens de letras. Há que saber sair da pobreza de um Eu, e deixar-se guiar pelo espírito, para alcançar esse “Reino de aquém e de além dor” do qual não há mapas a decifrar.
Mas já disse a nossa grandíssima poetisa Florbela Espanca que “ser Poeta é ser mais Alto, é ser maior do que os Homens”, por isso, acho que os poetas nunca serão totalmente compreendidos. Eu não sou poeta. Não sou capaz de aí chegar. Tenho o coração carregado de amarras que não me deixam ganhar as necessárias “asas e garras de Condor”. Quero corta-las, ainda que alguns teimem em atá-las. Voltarei a desfazer os nós e tentar chegar a esse reino lá longe, onde só um poeta pode ter “manhãs de ouro e de cetim”, onde pode “condensar o mundo num grito” e até, escrever em “cinzas de cristal”.
O Caminho Solitário dos Poetas...

1 comentário:

Anónimo disse...

“a poesia é esse lugar, onde o poeta pode deitar mão de tudo, e transforma o assombroso em possível. A poesia é esse canto do mundo em que um homem transforma o que “não pode ser” em si mesmo, e então o que não era ganhou vida”.
Não concordo nada com esta ideia.