quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O Gosto e o Des-gosto

Olá...Já a algum tempo que não nos víamos... com estas coisas da ordenação, trabalhos paroquiais, etc, não sobra muito tempo... mas este tempo partilhado com os amigos sabe sempre muito bem...
Um desabafo!
Ando envolvido em alguns projectos, ligados à arte. E isso não vos surpreende, eu sei, pois para quem está ligado à área, nada mais normal do que andar enfiado até ás orelhas na matéria...
Ora mas deu-se o caso, de estar envolvido na reformulação de um espaço, e não é que o projecto foi totalmente chumbado. Verdade verdadinha.
Razões? Não agradou ao Júri.
Mas porque? Simplesmente não gostou!
Este facto levou-me durante dias e dias a uma reflexão profunda sobre o gosto, e o des-gosto.
Será que um Júri tem direito a gostar ou não gostar de alguma coisa?
Não se devia antes de tudo levar em conta os aspectos formais, estilo, função etc… daquilo que está em apreciação? Como se pode chumbar alguma coisa porque simplesmente não se gosta?
Não percebo, como algo tão subjectiva como o gosto, ou o des-gosto pode ser lei máxima de deliberação.
Agora, reflictam comigo.
Nós temos muitas igrejas barrocas não é? É.
E antes do barroco o que havia? Nada?
Antes do barroco existiu o Gótico, o Maneirismo, o Renascentista, o Românico, o Clássico, etc… Mas parece que no gosto de português iluminado ficou preso no gosto pelo neo-barroco e neo-clássico, que foi uma forma de arte muito aceite no século XIX, e que quase sufocou a Arte Nova e outros estilos.
E hoje o que se faz? Aparentemente nada, mas faz-se.
Mas então não é, que quando se quer introduzir uma pequena evolução, a malta lá quer ficar presa ao eterno neo-barroco e neo-clássico?
Foi isto que aconteceu.
Não se gostou, porque o projecto é moderno demais para o espaço em questão, que é dos estilos atrás referidos.
Agora digam-me lá: se uma igreja é feita no século XVI, se tem estruturas do século XVIII, se tem um tecto do século XX, porque não há-de poder ter elementos do século XXI, desde que na sua elaboração se tenham tido em conta todos os cuidados e mais alguns de integração?
Pronto… não se gostou.
Vai dai que eu inventei mais um estilo, chama-se o DES-GOSTO ILUMINADO PORTUGUES, que é aquele gosto característico nosso, de que afinal sabemos tudo, e como tal podemos reprovar um projecto, mesmo de que dele nada se saiba, nem se peça esclarecimentos.
Logo, como tudo sabemos, o nosso gosto é deliberativo, portanto…
O que se calhar, nem toda a gente saiba, é que o romanico quando apareceu, foi declarada uma arte muito avançada para a época... o gótico rompeu com o romanico... e o barroco estragou a vida ao gótico... em todas as épocas houve revivalismos... em cada revivalismo, os defensores acham sempre que esa forma de arte é absolutista, é o que vemos hoje.
Não digo tudo que me apetecia, por uma questão de caridade.
Beijos e Abraços.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

uma história... a minha

Falar da história de uma vocação, e nomeadamente da minha vocação, é sempre muito difícil, já que, é quase impossível citar cada momento, de que Nosso Senhor se serviu para fazer esta mesma história comigo. Por outro lado, acho que não sei distinguir com clareza esse instante, se é que ele existiu, em que, demos por decidido e clarificado o discernimento vocacional. Contudo, sabemos que foi fruto de uma caminhada longa.
Apesar de não ter memória clara disso, contam os meus pais que em criança, por vezes, quando inquirido do que queria ser quando fosse grande, eu me saia com a desconcertante resposta: “quero ser padre”. Lembro-me sim, que no meu imaginário havia um homem que eu admirava, que era por sinal sacerdote, o padre de toda a minha meninice e juventude, o Pe Manuel Gonçalves.
Durante os meus anos de catequese, e quão felizes foram eles, o Pe Manuel foi sempre presença constante, quer nas visitas às salas de catequese, nas festas e nas celebrações. Nas “Missas de crianças”, limava a linguagem e sabia ter sempre gestos de grande ternura que nos cativava. Acho que era por isso, que não raras as vezes dizia para comigo: “gostava de ser como ele”.
Tudo isto se desenhava no contexto de uma família católica, cujas raízes profundamente cristãs, ajudaram a semente, que temerariamente despontava, fosse crescendo. Os meus pais, vieram da Madeira tinha eu 5 anos, e viemos viver para o Concelho de Alcochete. Contudo pela proximidade, a vida cristã foi vivida no Santuário da Atalaia, dai que nunca tivesse relação com a comunidade eclesial alcochetana.
Pela adolescência, não fiquei imune ao afastamento da Igreja. Por essa altura descobri a vocação teatral, que se sucedeu à ideia apaixonada de ser arqueólogo. Os estudos em teatro progrediram na Companhia Gilteatro de Alcochete, subindo ao palco com diversas personagens em cerca de dez peças. Enquanto as luzes da ribalta e os aplausos me ofereciam momentos de grande alegria, no meu espírito o Senhor ia traçando outro argumento.
Aos poucos voltei á vida activa na Igreja, e fui sendo vencido por Aquele que nunca se deu por vencido, mesmo quando declarei a sua derrota. Depois de ter começado a estudar teologia, como leigo, fui descobrindo coisas novas, que me deixaram profundamente interrogado sobre a minha vida e futuro. Parei os estudos e fui durante um até Moçambique, onde fui conhecer a realidade missionária, pelas mãos dos Leigos Boa Nova um grupo da Sociedade Missionária da Boa Nova. Este foi um ano cheio de desafios, onde me deparei com uma Igreja tão diferente daquela que eu conhecia. Foi um dos melhores anos da minha vida, que não cabe aqui falar, mas que foi decisivo na minha caminhada vocacional.
De volta á casa paterna, retornei à teologia e á vida profissional ainda na área do teatro. Neste regresso tornei a esquecer as minhas interrogações vocacionais, até porque tudo parecia encaminhar-se definitivamente para a vocação matrimonial, o que me deixava feliz e tranquilo.
Mas o Senhor, que jamais se deu por vencido, desperta de novo no meu coração a interrogação sacerdotal. Foram semanas de angústia, aquelas que precederam a ruptura de uma ligação, e o início do caminho que me fez chegar aqui.
Após a decisão tomada, com a ajuda do meu pároco (na altura já residia na paróquia do Montijo) fui discernindo a vocação, trabalhando por esta altura mais empenhadamente nas comunidades da Atalaia e Afonsoeiro. Nos encontros semanais do seminário, a decisão foi ganhando contornos, definições e por fim já era uma certeza.
Entrei no Seminário acompanhado de 5 companheiros. Todos nós tivemos percursos diferentes de estudos, o que provocou que durante a nossa formação nos desencontrássemos no nosso percurso. Dois de nós são hoje já sacerdotes, um de nós decidiu sair, um preparar-se para receber o ministério de Leitor e o Carlos e eu o Diaconado. Dou graças a Deus por este tempo e por cada um deles, que me proporcionaram grandes momentos de alegria. Foi aí, que no confronto da vida comunitária, fui provando a minha vocação, e nos diálogos aparentemente solitários, fui com o senhor chegando a certezas cada vez mais firmes.
A dias da minha ordenação diaconal, muitos foram aqueles que me foram dando os parabéns. Entre obrigados, dei sempre graças a Deus por todos aqueles que me ajudaram a chegar aqui. Não dizendo nomes, porque não é espaço nem tempo para isso, sei que nos vossos corações este meu agradecimento vai ecoar, e no meu, este sentimento vai perpetuar-se, até que, um dia, o Pai vos retribua tudo o que fizestes por mim.
Junto aos pés de Santa Maria, quer do Bom Sucesso, comunidade que me viu nascer, ou da Atalaia que me viu crescer, entrego-me à vossa oração, para que Jesus me conceda o dom da santidade.
Pedi para nós, bem como para todos os diáconos e sacerdotes o dom da santidade.

Casimiro Henriques
27.Dezembro.2007
Festa de S. João, Evangelista

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Obrigado.

Só o silêncio, pode dizer tudo aquilo que as palavas, em certos momentos, não podem conter. e porque alguém disse que uma imagem vale por mil palavras, deixo-vos duas imagens, que, talvez, valham por duas mil palavras.

Obrigado pela vossa presença, e pela vossa oração.