quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Et incarnatus est

SANTO NATAL.
UM ANO CHEIO DE BENÇÃOS.
nas palavras do meu amigo, José...
…sem boca nem nariz, mulher, e mãe, se eu soubesse descrever o teu rosto, imaginar o que se esconde por detrás dele, rosado, bonito, mutilado pelo tempo e pela violência do mundo… Os teus olhos, mulher, e mãe, olham para longe, duas faces, não em contradição, talvez falem dos caminhos que se bifurcam…

O Emma Mersk, o maior porta-contendores do mundo zarpou de um porto qualquer da china, sabe-se lá quando, vem descarregar em Inglaterra todas as novidades necessárias para o natal europeu: luzes, bolas coloridas, laços, fitas, pinheiros artificiais, neve de esferovite, pais natal, dinossauros eléctricos, gorilas dançarinos, desfrisadores de cabelo, comida para gato, toneladas de mexilhão, toneladas de tudo, na última página do jornal. O Emma Maersk só não pode trazer figos secos como os da minha mãe. Nem aquele menino!

Corto um tronco de salgueiro e talho nele, com o canivete a mãe, o pai e o menino. Coloco os três perto da lareira. E junto do menino um nariz de palhaço. O nariz de palhaço pode ser o nariz de Deus. Nossa Senhora da Graça guarda no bolso do avental outro nariz de palhaço. O menino ao colo de Nossa Senhora da Graça ri-se por causa daquele nariz de palhaço, Deus escondido no bolso do avental da mãe. Um pirilampo mágico cor de vinho espera na minha estante com livros que lhe cresçam asas esta noite; se assim for voará pela trapeira aberta e será a estrela de Belém de nosso senhor.

…rosto rosado, enrugado, tão bonito, marcado pelo tempo, e mãe do tal menino!