terça-feira, 15 de maio de 2007

J.J. Sousa Araújo: pintor de Nossa Senhora

Não podia nestes primeiros “post’s”, deixar de falar do meu amigo e mestre, o pintor/arquitecto João Sousa Araújo. É um homem extraordinário, que aprendi primeiro a admirar como artista e depois, depois o privilégio de o conhecer como homem e por fim a graça de o estimar como amigo.
Estamos no mês de Maria e como foi o próprio papa Paulo VI que o apelidou de “pintor de Maria”, nada mais próprio que lhe dedicar umas letritas neste mês.
O texto que se segue é um curtíssimo excerto da minha tese de licenciatura, que aguarda ventos de financiamento para ser editada, mas sem pressas.

A Obra Religiosa de J. J. Sousa Araújo
A obra de João de Sousa Araújo é um contínuo compromisso com o Mistério Divino, e por isso um excelente “espelho” da figura Deus revelado. Gosta de pintar uma ideia de contemplação, como se aquela “visão” acontecesse naquele mesmo instante e o espectador fosse por isso participante desse mesmo acontecimento.
Nas pinturas de Maria espelha a ternura, a piedade e a pureza transcendente da Mãe de Deus. Pinta vezes sem conta os temas marianos dos mistérios gozosos e da aparição da “Senhora mais brilhante que o sol”. Uma pintura em que o rosto da virgem, não é mais que um terno convite à contemplação da vida de seu Filho.
A obra do artista, radica na luz do Mistério, em “algo que vem de dentro para fora, vem do modelo e espelha-se nas aproximações de cada tonalidade”[1].
O belo deve levar a uma ascensão para Deus, daí que a beleza de uma obra de arte deva ser a síntese do bem e da verdade, tem necessariamente de ser algo que integra e unifica[2]. Refere o nosso autor: “se a obra leva a uma atitude de oração e meditação, então é arte religiosa”[3].
O que Sousa Araújo mais gosta de pintar, são os temas da sagrada escritura. Refere que gosta de procurar a harmonia da sua visão da cena do episódio, com os dados contidos no texto, e nunca inventá-los. Diz ele que “se procuramos nos dados uma harmonia, seguindo o texto, então damos espaço para a acção dos Espírito Santo”[4].
A obra do pintor é o melhor testemunho das suas palavras, e da sua vida. Ela é sinal da fé que o anima, de tocar algures na orla do Infinito e do amor pela família humana. Há uma entrega pessoal e total a cada quadro, que por isso mesmo tem de ser faseada porque é esgotante. Há uma combustão que não se pode deitar fora, tem de se ir trabalhando, amando, até encontrar a harmonia, depois abandona-se a obra, “ a mais atractiva é a fase da cruz”[5].

Foto: Casih.05

Biografia
João José de Sousa Araújo nasceu no dia 12 de Novembro de 1929, filho do Mestre Gravador Renato Penha e Cantos de Sousa Araújo e de Maria Manuela Gramunha Vasquez de Sousa Araújo.
Estudou na Escola de Arte Aplicada António Arroio, e licenciou-se na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (E.S.B.A.L.) em Arquitectura, Pintura e Escultura, com a classificação final de 20 valores. Leccionou durante três anos nessa Escola várias matérias das suas especialidades e recebeu o prémio Roque Gameiro. Também se dedicou à Gravura, modalidade pela qual em 1954 recebeu a 1ª medalha da Sociedade Nacional de Belas Artes. Dedicou-se ainda à Cerâmica e ao Vitral.
Ainda estudante de arquitectura, Sousa Araújo foi trabalhar para o Banco de Portugal na qualidade de gravador, modalidade que lhe proporcionou um estágio na Áustria. São da sua autoria as maquetas iniciais de treze notas portuguesas. A descrição pormenorizada destes trabalhos, encontra-se numa obra do Banco de Portugal intitulada O Papel Moeda em Portugal.
Em 1951 realiza uma exposição na Sociedade de Belas Artes.
No ano de 1954 concebeu a Capela de Santa Maria Goretti, na igreja da Encarnação em Lisboa, um projecto onde se integra pintura e escultura.
Expõe em 1965, na cidade de Roma, um retrato de Paulo VI que foi largamente apreciado.
Até 1967 desenvolve vários projectos para a Basílica e Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Desenha os vitrais da nave central (num total de 140 m2). Realiza várias telas entre as quais o painel do Altar-Mor.
Entre 1968 e 1997, elabora para a Catedral de Nampula, Moçambique, os vitrais, o políptico da Capela do Santíssimo “Pacem in Terris”, e o políptico do Altar-Mor “Aparições de Fátima”, entre outros projectos de arquitectura para aquela Diocese.
Em 1972 foi um dos retratistas seleccionados para a exposição Paul Louis Weiller, organizada pela Academia de Belas Artes, sendo em 1976 escolhido como escultor. Já em 1975 expõe individualmente na Sala Magna do Palácio da Cultura do Rio de Janeiro.
No ano de 1976, inaugura uma exposição na Embaixada de Portugal junto da Santa Sé. Nesta exposição foi seleccionado um quadro, de grandes dimensões, representando Cristo na Cruz para a colecção do Papa.
Em 1977 expõe no Palácio Anchieta e na Igreja da Consolação, em S. Paulo, Brasil. Em 1978 expõe na Propac e em 1979 no Palácio dos Congressos y Exposiciones, em Madrid.
A pedido do Embaixador da Ordem de Malta, pinta o quadro de São João Baptista, que se encontra na igreja da ordem em Lisboa desde 1980.
Em 1985, uma das suas pinturas a óleo intitulada “Cavalo Branco” foi oficialmente integrada na colecção do príncipe herdeiro do Japão.
Tem cerca de 400 retratos pintados a óleo, entre os quais Paulo VI, em 1968 (que se encontra no Pontifício Colégio Português em Roma) e o do Rei Humberto de Itália.
Como arquitecto tem projectado numerosas obras no continente e ilhas, como moradias, blocos residenciais, igrejas, pavilhões de caça, estabelecimentos hoteleiros. Em muitas destas obras são da sua autoria a arquitectura e a decoração.

Foto: Seminário de São Paulo

Notas
[1] HENRIQUES, Casimiro – A pintura de João José de Sousa Araújo. Texto policopiado, Lisboa, 2005, p.23.
[2] Cf. FONTINHA, A. – Pintores de hoje. L’osservatore Romano. 482 (1979) 5.
[3] HENRIQUES, Casimiro – A pintura de João José de Sousa Araújo. Texto policopiado, Lisboa, 2005, p.23.
[4] HENRIQUES, Casimiro. Idem, p.23.
[5] HENRIQUES, Casimiro. Idem, p.24.

4 comentários:

Dario disse...

Temos a Graça de ter um quadro deste Grande Senhor em nossa casa! As bodas de caná, evangelho do nosso casamento! E que lindo que é:) não achas casih?

Casih disse...

Se é xana...se é. E bem significativo... mas não entro em pormenores, que é para o pessoal vos fazer umas visitas artisticas a vossa casa...Lol

Anónimo disse...

Chamo-me Carlos de Sousa Araujo, nasci em Angola, os meus avos eram portugueses. Familia Araujo em Angola 1824/2009.

Por volta de 1824 (sec. XIX) tera sido colocado em Angola, vindo em missao de soberania, JOSE MARIA DE SOUSA ARAUJO, natural de Braga, Oficial do exercito no reinado de D.MARIA II, casara com elementos requintada, a DONA LUISA DA CONCEICAO E MENESES DE SOUSA ARAUJO, tendo dois filhosVaroes: Lino Maria de Sousa Araujo e ALFREDO MARIA DE SOUSA ARAUJO (1843/5 DE QUE DESCENDEMOS.

Com efeito, LINO MARIA DE SOUSA ARAUJO, deixara os filhos: JAIME AURELIO, JOSE MARIA, GEORGINA MENEZES, SEBASTIAO E LILIANA DE SOUSA ARAUJO.

O irmao ALFREDO MARIA DE SOUSA ARAUJO, deixou ANA E OCTAVIA DE SOUSA ARAUJO.

Ajude-me a encontrar a Arvore GENEALOGICA DOS `DE SOUSA ARAUJO´.

OBS: JAIME AURELIO WILLS DE ARAUJO, filho de Lino Maria de Sousa Araujo, neto de Jose Maria de Sousa Araujo (natural de Braga, oficial do exercito do reinado de D.Maria II) nasceu em Luanda a 7.9.1877. Tinha os Cursos; naval de guerra e de Engenharia hidrografa , regente de cadeiras na Escola Naval de Vila Franca.

Socio correspondente da Academia das Ciencias de Lisboa, Contra-Almirante em 1937.

Faleceu em 1941 no posto de Vice-Almirante da Marinha Portuguesa.

Quero saber do paradeiro dos Araujo que ficaram em portugal.

Um abraco

Meu email: caraujocarjo@portugalmail.com

Ruy Ventura disse...

Sempre que contemplo uma obra de Sousa Araújo religo-me e subo a scala coeli.