terça-feira, 14 de abril de 2009

o Pobre Homem do jumentinho…

...eis-nos ás portas da Cidade Santa, prontos a entrar e a para viver a Páscoa do Senhor.
A multidão arranca ramos de oliveira, palma, alecrim… e no ar já se sente um forte odor de rosmaninho…
Alguém pobremente trajado, sobe a colina sentado num jumentinho!
Esse mesmo homem pára diante de ti e olha-te. Consegues sentir a profundidade desse olhar?
Abandonamos a entrada da cidade e vamos até ao calvário, onde já não encontramos ninguém segurando nenhuma palma de vitória. Jesus, aquele a quem alguns escandalosamente chama de Cristo, está a ser constantemente açoitado e por fim é deitado na Cruz, onde o prendem. Ainda consegues ouvir as pancadas secas do martelo?
Ao olhar em volta descobrimos que todos abandonaram o Pobre Homem do jumentinho. Há um silêncio de morte. O medo apodera-se dos pobres homens pecadores.
Jesus é depositado no seio da terra, e ouve-se alguém repetir timidamente: “terei eu de voltar de novo ao ventre de minha mãe?” (Jo 3, 4)… Um outro prefere recordar um fragmento de uma parábola meio esquecida: “se o grão de trigo não morrer não dá fruto”(Jo 12,24).
O silêncio aumenta e o peso do pecado aumenta no coração do pecador. Jesus desce aos infernos e vai salvar Adão.
Mas o silêncio do jardim é abruptamente interrompido por uma “louca” mulher que grita ao descobrir que roubaram o corpo do seu Senhor. Há quem diga que enlouqueceu de amor e como não enlouquecer perante Aquele que tudo me perdoa porque tanto me ama (Lc 7, 47).
Afinal o homem do jumentinho, já não está no ventre da terra, porque dizem eles que ressuscitou! E eu que digo ao mundo?
A pobre mulher não aguenta de felicidade, e desata a contar a todos que o seu Senhor não morreu e ressuscitou. Não tem medo de a prenderem, de lhe chamarem louca, ou de dizerem que era sua amante. Ela só sabe uma coisa: o seu Senhor não morreu e ressuscitou.
E eu? Será que já sou capaz de ir ter com meus irmãos e dar provas do triunfo da vida sobre a morte?
imagem: Entrada de Jesus em Jerusalém, Giotto, séc. XIV, capela de Scrovegni, Pádua, Itália.

4 comentários:

K disse...

Obrigada pelas palavras, Padre!

Melhor da garganta?

beijinhos
Cátia

utopia disse...

Caro Padre Casimiro,

Hoje a minha maior preocupação está num nível um pouco diferente -Será que a minha vida, a minha maneira de ser me permite ser esse que anuncia a ressurreição de Cristo?
Porque se não for assim mais vale estar calado! Ou não?

Forte abraço em Cristo... o Único que dá sentido à minha existência...

Casih disse...

E não será o silêncio uma excelente forma de eloquência? Vale a pena calar, se esse silencio não nos envergonha... Mas fale aquele que for chamado a isso, porque mesmo que cale até as pedras falarão d'Ele. Quem não souber falar peça o Fogo de Deus em sua boca. Em tudo sabemos que só com o Espirito podemos falar...ou calar!

utopia disse...

Caro padre Casimiro,

Obrigado pela réplica.
A minha ambiguidade aparente prende-se com a necessidade suprema de perfeição que me "corrompe" o espirito. Não quero ser uma coisa e anunciar outra... tenho que ser sempre coerente.
E quero buscar essa perfeição num estado de silêncio interior e na oração/entrega, mas estou tão longe desse desiderato... haja paciência para mim próprio...

Sonho para mim e para os homens o impossível!

Forte abraço em Cristo nossa paz!